Como as experiências nos primeiros anos de vida moldam quem nos tornamos e por que isso importa para todos nós
Você já parou para pensar por que reage de determinada forma em situações difíceis? Ou por que repete certos padrões nos relacionamentos, mesmo quando deseja agir diferente? A resposta para muitas dessas perguntas pode estar na infância.
Na psicologia, especialmente na abordagem psicanalítica, compreendemos que as vivências dos primeiros anos de vida formam a base da personalidade adulta. Isso não quer dizer que somos prisioneiros do passado, mas que ele exerce uma influência silenciosa e profunda sobre quem somos e como nos relacionamos com o mundo.
Os primeiros vínculos
É nos vínculos mais primitivos, geralmente com os pais ou cuidadores principais que aprendemos as primeiras formas de amar, confiar, lidar com frustrações e reconhecer nossas emoções. Quando uma criança é acolhida, ouvida e respeitada em suas necessidades emocionais, ela vai pouco a pouco construindo uma autoestima saudável e segurança. Quando isso não acontece, podem surgir marcas emocionais que se expressam na vida adulta como inseguranças, dificuldades em se vincular, ansiedade, entre outros sintomas.
As marcas que não vemos
Nem sempre as experiências marcantes da infância são lembradas com clareza. Muitas vezes, são situações aparentemente simples, como não se sentir visto, não poder expressar tristeza ou medo, ou viver em ambientes com conflitos constantes, que vão se cristalizando internamente. A criança pequena ainda não possui os recursos psíquicos para entender e elaborar essas vivências, e é aí que entram os mecanismos inconscientes, que continuarão influenciando sua personalidade na vida adulta.
Por que cuidar da infância?
Como psicóloga infantil, vejo diariamente o quanto o cuidado com a saúde emocional na infância previne sofrimentos futuros. Isso não significa evitar todas as dores ou frustrações, elas fazem parte da vida, mas oferecer à criança um espaço seguro para expressar, elaborar e crescer.
É importante que pais e cuidadores saibam que não precisam ser perfeitos, mas suficientemente bons. Estar disponível emocionalmente, reparar quando errar e buscar apoio quando sentir que não está conseguindo, são atitudes que já fazem toda a diferença.
O adulto também pode cuidar do que viveu
Por fim, mesmo que a infância tenha deixado feridas, é possível revisitá-las com o olhar de hoje. A psicoterapia é um espaço potente para isso: para compreender, ressignificar e seguir com mais consciência e liberdade.
Somos feitos de histórias, e muitas delas começaram bem antes de termos palavras para contá-las. Cuidar da infância é cuidar do futuro das crianças e dos adultos que elas um dia se tornarão.
Por Aline Biano Psicóloga infantil @psicoalinebiano