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terça-feira, 1 de julho de 2025

Criança não namora: o que está por trás de uma frase que protege a infância

Quando adultos romantizam amizades infantis e incentivam brincadeiras de namoro, podem abrir caminho para a adultização precoce e confusões emocionais. Entenda como proteger o desenvolvimento saudável das crianças.

Você já ouviu ou talvez até falou frases como: “Olha esse casalzinho lindo!”, “Já tem namoradinho na escola?” ou “Eles vão casar quando crescer”. A cena é comum: duas crianças brincando juntas e, de repente, os adultos ao redor começam a romantizar a interação. O que parece uma brincadeira inocente, na verdade, pode gerar efeitos profundos no universo emocional da criança.

A frase “criança não namora” tem ganhado espaço nas redes sociais como uma forma de conscientizar sobre os riscos da adultização precoce, um fenômeno em que comportamentos, emoções e experiências adultas são impostos, mesmo que sutilmente, às crianças. E, como psicóloga infantil posso afirmar: respeitar o tempo psíquico da infância é um dos maiores gestos de cuidado que podemos oferecer.

Infância é tempo de brincar, não de romantizar

Na psicanálise, compreendemos que o desenvolvimento emocional da criança se constrói em camadas, a partir de vivências simbólicas, do brincar, da relação com os pais e cuidadores. A criança elabora seus sentimentos aos poucos, e o amor, o afeto e a sexualidade surgem de forma muito diferente do universo adulto.

Quando projetamos significados adultos em relações infantis, como “namoradinhos”, acabamos confundindo a criança, que ainda está formando sua identidade, seus afetos e o próprio corpo. Esse tipo de fala pode gerar desconforto, vergonha, ansiedade e até culpa.

Não é exagero. É proteção.

Permitir que a criança viva a infância em sua plenitude é um ato de prevenção. Ao naturalizar brincadeiras de “casamento”, “beijo na boca” ou “amor de namoradinhos”, podemos abrir espaço para confusões emocionais e, infelizmente, até para a banalização de situações que envolvem abuso. A criança pode não conseguir dizer “não” ou identificar situações inapropriadas se desde cedo foi ensinada a agradar, se calar ou rir de coisas que a incomodam.

O que os pais e educadores podem fazer?

  • Evite comentários sobre namoro infantil, mesmo em tom de brincadeira.
  • Não incentive brincadeiras adultizadas, como “casamento” com beijo, roupas sensuais ou músicas com conotação sexual.
  • Ensine sobre o corpo e os afetos com linguagem apropriada à idade. Dizer, por exemplo, que beijo na boca é um gesto de carinho entre adultos e que existem outras formas de demonstrar amor entre amigos.
  • Respeite o tempo da criança: ela precisa brincar, fantasiar, explorar o mundo e se construir sem pressa.

Infância é lugar de afeto, segurança e liberdade

É preciso que toda a sociedade compreenda que infância não combina com erotização nem com romantização precoce. Isso não é puritanismo, é saúde emocional. Ao cuidarmos das palavras que usamos e das brincadeiras que incentivamos, estamos criando espaços mais seguros, amorosos e saudáveis para nossas crianças.

Por Aline Biano
Psicóloga infantil, psicanalista, idealizadora do projeto socioemocional “Emoções”
@psicoalinebiano

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